Resenhas | Espiral de Ilusão - Criolo (2017)

Vindo do Grajau, do rap, do gueto, para mostrar algumas verdade que teimavam varrer pra longe, a música brasileira precisava de alguém com a linguá solta e essa alguém é Criolo.

Criolo era Doido, anos atras sob o comando de Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, lançou o disco "Nó na Orelha", um disco capaz mesmo de da um "nó na orelha" de quem o escutasse. E para aqueles que ainda achava que rapper não era capaz de cantar. Criolo estourou. Escapuliu de algumas bolhas, tornou-se figura central da nova música nacional.

O rapper foi capaz de encontrar dentro de si o cantor que habitava seu própio corpo. Ao se livrar das amarras invisíveis, descobriu uma joia rara a ser lapidada. A voz. Seja no samba, seja no afrobeat, no brega, no reggae, que comanda os ótimos Nó na Orelha (2011) e Convoque Seu Buda (2014).

Com o seu mais recente trabalho intitulado "Espiral de Ilusão" somos apresentados a um novo Criolo. A sua tão conhecida liberdade musical o fez abrir a gaveta do samba - e suas vertentes e subgêneros.

O samba sempre esteve presente na obra do artista, não é de hoje que Criolo se distancia das rimas e batidas do Hip-Hop para subir o morro e abraçar o gênero que tanto o seduz. O ritmo muito bem embalado pelo cavaco, pela cuíca, pela estrutura do samba, transportam o ouvinte para dentro do disco.

Logo de inicio com a faixa "Lá Vem Você", Criolo mostra a construção de um cenário colorido e atual. Como um bom rapper que é o dialogo com a periferia Paulistana vem na na faixa "Cria de Favela" (“Eu vivo a sofrer / Criado em favela é melhor não mexer“).

O artista ainda brinca de criar personagens em "Filha do Maneco", e em sentimentos confessos "Diluvio da Solidão" e desiluções em "Calçada".

A poesia politizada na terceira faixa do disco "Menino Mimado" (“Este abismo social requer atenção / Foco, força e fé, já falou meu irmão / Meninos mimados não podem reger a nação“), clara provocação ao governo de políticos representantes com pouco contato com a população seja ele o novo prefeito de São Paulo, João Dória, ou o atual Presidente da República, Michel Temer.

Intimo e versátil o rapper paulistano se mostra um dos mais importantes cantores do Brasil na atualidade. Fora do conceito RAP de ser, Criolo descobriu e nos mostrou uma voz pronta para cantar as angustias de coração partido através do mais puro e verdadeiro Samba.