Adaptação do romance escrito por Shūsaku Endō em 1966, Silêncio é curiosamente um dos projetos mais pessoais de Scorsese (um dos meus diretores favoritos). São quase 3 horas de duração, onde somos apresentados as questões da fé e o seu questionamento.
Na trama, acompanhamos a árdua jornada de dois padres Jesuítas portugueses: Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver, sim, aquele do Star Wars), que partem para o Japão em busca do mentor, Cristóvão Ferreira (Liam Neeson). As últimas informações dão conta de que renunciou à fé cristã, tem mulher e vive como um japonês.
Durante 25 anos de produção, Scorcesse foi o único a acreditar no filme com uma admirável persistência, chegando a dizer que tudo estaria pronto " ao tempo de Deus".
Agora falando do filme...
Andrew Garfield interpreta um homem obstinado, preparado para ser mártir mas que quer, ao mesmo tempo, destacar-se pela sua missão e pelos seus atos. Ele é uma espécie de Jesus e para existir, tem de haver uma espécie de Judas, e ele é Kichijiro (Yōsuke Kubozuka), um traidor recorrente que se arrepende e volta sempre para pedir perdão.
Difícil não ver a relação estabelecida entre Rodrigues (Garfield) e o próprio Jesus Cristo. Tentando fazer o bem e ajudar as pessoas mais próximas, o padre acaba se tornando uma figura de referência.
Garfield vive a melhor fase de sua carreira. Somente em 2016, o ex-Homem-Aranha estrelou Silêncio e Até o Último Homem, de Mel Gibson.. Mesmo com a sua cara de menino mimado, Garfield mostra força na interpretação do protagonista e nos seus conflitos pessoais. Driver é outro destaque, embora receba menos atenção de Scorsese.
Silencio é esteticamente lindo com um fotografia impecável e de uma agonia absurda. O Japão é um pântano, como dizem no filme, onde o cristianismo nunca conseguiria prosperar. Para liderar a tarefa para erradicar a religião no país está Inoue Masashige (Issey Ogata), o inquisidor.
É muito sobre nossa obstinação em sustentar crenças e valores diante situações extremas. Se levarmos isso além da questão religiosa de questionar a fé, podemos perceber que a lição se aplica para tudo na vida. Rodrigues assiste cenas de violência extrema (decapitações, gente pegando fogo e morrendo amarrada na cruz em alto mar) e precisa apostatar para conseguir sobreviver.
Um pouco cansativo no desenrolar da historia, o longa pode deixar o espectador desconfortável e ansioso para o final e também é preciso muito esforço para se manter atenção na tela.
Sebastião Rodrigues, está preparado para sofrer e defender os seus ideais até ao fim mas e se forem outros torturados com água a escaldar ou queimados vivos para ele ceder? Será capaz de apostatar (renunciar publicamente à fé) e viver com a sua consciência?.
Ou ouvirá da parte de Deus apenas o SILÊNCIO?
Resenha | Silêncio (Silence - 2016 )
Reviewed by Mario Vianna
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20:30
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